Quem maratona produções da Netflix sempre se pergunta: até onde vai a realidade e onde começa a licença poética? Com a estreia de Os Donos do Jogo, essa dúvida ganhou força, afinal a trama mergulha no submundo do jogo do bicho carioca.
Nos próximos parágrafos, o Resumo de Novelas destrincha a história real de Os Donos do Jogo e mostra três verdades e duas mentiras que a série espalha pela tela. Prepare-se para descobrir como crime, Carnaval e política se misturam nessa narrativa explosiva.
Famílias, conselho e Carnaval: raízes reais
A série apresenta Profeta, Búfalo e Mirna travando uma guerra de herdeiros pelo controle do jogo do bicho. Esse embate tem espelho direto na vida real: nomes como Castor de Andrade ilustram como o poder passa de pai para filho, genro ou sobrinho, detonando conflitos internos forjados em sangue e dinheiro. A história real de Os Donos do Jogo se inspira justamente nesse familismo que domina a contravenção no Rio.
Outro ponto que não é invenção do roteiro é o conselho de bicheiros que divide territórios e influencia políticos. Entre as décadas de 1970 e 1980, existiu a Liga Independente dos Bicheiros, onde figuras como Anísio Abraão David e Capitão Guimarães selavam alianças, financiavam escolas de samba e reforçavam poder. A relação com o Carnaval, mostrada na trama como vitrine de legitimidade, também nasceu desse casamento entre dinheiro ilícito e samba-enredo.
Vínculo com a cultura popular
O patrocínio às escolas de samba não era mero capricho. Ele gerava empregos, enfeitava a Marquês de Sapucaí e transformava contraventores em mecenas respeitados, algo que a série retrata com fidelidade quase documental.
Legalização, apostas online e personagens fictícios
Entre as maiores tensões da produção está o medo de que a legalização dos jogos acabe com o império clandestino. Esse temor tem base no Projeto de Lei 2.234/2022, que propõe cassinos em resorts e pode minar o domínio das bancas ilegais. Assim, a história real de Os Donos do Jogo dialoga com o cenário político atual, em que o assunto ainda tramita no Congresso.
Imagem: Netflix
A migração de bicheiros para plataformas digitais, exibida quando Profeta aposta tudo no online, também ocorre fora da ficção. Investigações recentes apontam lavagem de dinheiro em sites de apostas, evidenciando a transição do crime tradicional para o colarinho branco digital.
Mentiras necessárias para a dramaturgia
Apesar de beber na fonte da realidade, nenhum personagem da série usa nomes ou episódios verídicos. Profeta, Búfalo e Mirna são criações originais, desenhadas apenas para ilustrar as engrenagens do poder carioca. Outra licença é a ideia de que cassinos já foram aprovados; na vida real, o jogo de azar segue proibido, mantendo o cenário que inspira o roteiro.
Com isso, a produção equilibra fatos duros e ficção dramática, oferecendo ao público uma narrativa eletrizante sem virar documentário. Agora que você conhece o que é real e o que é invenção, vale reassistir aos episódios com um olhar ainda mais crítico.
