O mistério que assombrou a Toscana por quase duas décadas voltou aos holofotes com a minissérie O Monstro de Florença, na Netflix. A produção revive oito ataques cometidos entre 1968 e 1985, sempre contra casais em carros, totalizando dezesseis vítimas.
Ao longo de quatro capítulos, a trama recapitula investigações confusas, mudanças de versão e um dilema central: Salvatore Vinci seria mesmo o assassino em série que escapou da Justiça? Resumo de Novelas mergulhou nos fatos trazidos pelo documentário e na história real para explicar como o siciliano virou peça-chave do quebra-cabeça.
Como Salvatore Vinci entrou na mira da polícia
A narrativa começa em 19 de junho de 1982, quando Paolo Mainardi e Antonella Migliorini foram baleados numa estrada. Para a promotora Silvia Della Monica, a pressão pública exigia respostas imediatas. Ela afirmou à imprensa que Mainardi vira o rosto do atirador, empurrando os agentes a revisitar um caso antigo: o duplo homicídio de 1968 em Signa.
Nesse crime, Barbara Locci e Antonio Lo Bianco morreram enquanto o filho dela dormia no banco traseiro. O marido de Barbara, Stefano Mele, confessou ter usado uma pistola Beretta calibre 22, nunca localizada. Anos depois, já em 1982, Stefano mudou a versão e apontou o cunhado Francesco Vinci como mentor do ato, citando ciúmes. Preso, Francesco continuou negando envolvimento e foi solto após novos assassinatos ocorrerem enquanto ele estava na cadeia.
Com a cronologia desmentindo as suspeitas sobre Francesco, investigadores focaram em Salvatore Vinci. O siciliano já carregava histórico nebuloso: a primeira esposa morreu em circunstâncias suspeitas, atribuídas oficialmente a suicídio por gás. Havia ainda relatos de violência sexual contra a segunda mulher, Rosina Massa, e boatos de relação íntima com Stefano, que teria desencadeado ciúmes fatais.
Absolvição, desaparecimento e a dúvida que persiste
O ponto alto da caçada veio após o assassinato dos franceses Jean Kraveichvili e Nadine Mauriot, em 1985. A promotoria recebeu parte de um seio de Mauriot pelo correio, gesto macabro que acelerou a prisão de Salvatore. Em 1988, ele foi a julgamento como o possível Monstro de Florença.
Imagem: Netflix.
A acusação, porém, dependia do suposto homicídio da primeira esposa para traçar uma escalada criminosa. No tribunal, Stefano Mele declarou não lembrar de qualquer confissão envolvendo Salvatore, minando a tese da promotoria. Sem prova material incontestável, o réu foi absolvido e, pouco depois, desapareceu. Curiosamente, os ataques cessaram.
O documentário levanta a sobrancelha para essa coincidência, mas reforça: não existe evidência que amarre os oito assassinatos a um único autor. Outros suspeitos, como Pietro Pacciani e Mario Vanni, também foram julgados e acabaram livres.
Hoje, o enigma segue aberto. O Monstro de Florença apresenta Salvatore Vinci como candidato plausível, reforçado por comportamentos violentos, acesso à arma compatível e sumiço oportuno. Ainda assim, faltam a Beretta .22 e qualquer prova decisiva. Enquanto isso, o caso permanece um dos maiores mistérios criminais da Itália, lembrando como investigações frágeis podem deixar questões vitais sem resposta.
